OS MUROS Tomando a vizinhança como um encontro de diferenças, e a discordância como um desencontro entre semelhantes, a video-instalação de Lula Buarque e as fotografias de Marlos Bakker exercitam, via linguagens distintas, olhares que postulam questões. Os trabalhos de ambos artistas, exibidos no contexto desta exposição composta por duas individuais, investigam esta polarização em busca das subjetividades dos que conformam este complexo sistema social que foi transformado em campo de batalha. Realizadas nas salas expositivas do térreo e subsolo, ambas ocupações artísticas, ao ter os muros como foco, se debruçam sobre questões que atravessam os campos da arquitetura e do urbanismo para alcançar o contexto político no qual hoje habitamos. Esta conversa se dá por conjunção de dois grupos de imagens, que representam uma visualidade dialógica cujo intuito é colaborar para a ampliação do debate sobre as possibilidades da arte como dinâmica capaz de elucidar nosso tempo presente. No cenário brasileiro contemporâneo, há um urgente chamado à construção de interfaces de diálogo, ao invés do erguimento de trincheiras de guerra: a ausência do debate público, convergente e equilibrado, tem gerado apenas a desinformação. Isolados pelas cercas e distanciados pelas grades, a arquitetura utópica de um estado de bem estar social deu lugar a urbanismos distópicos, cujos alicerces estruturam esta segregação que remonta à flagrante origem colonial desse nefasto panorama político. O muro instaurado a ferro e fogo na Esplanada dos Ministérios é um marco simbólico, a partir do qual é preciso refundar as noções de espaço público e bem comum, tendo em vista que a liberdade de expressão difere frontalmente do discurso de ódio - prática ascendente cujo desdobramento causal, como a perspectiva histórica confirma, é a ascensão do fascismo. Em tempos de “pós-verdade” e fake news, é preciso, mais uma vez, fincar muralha (uma única; e esta, sim, pétrea) entre a sociedade e o extremismo. Leno Veras